Como a maioria já sabe, muitos profissionais de tecnologia passam, em alguns casos, pelo primeiro momento de insegurança em relação às suas carreiras.
Não é por menos.
Empresas digitais e Big Techs, as principais contratantes há alguns anos, que cresceram seus times em velocidade e quantidade igualmente assustadoras, inverteram estes movimentos, e agora semana sim, semana não, reduzem seus quadros de colaboradores (Layoffs), afetando principalmente as squads de tecnologia.
A balança entre oferta de candidatos e demanda por eles parece nunca encontrar seu equilíbrio.
A “dor” que antes era de formar e atrair uma quantidade suficiente de profissionais para cumprir as expectativas de growth da organização, agora é de reduzir, buscar eficiência e margem, colocando por vezes os talentos como responsáveis pela procura de oportunidades e não o contrário.
Este efeito, apesar de acelerado pelo momento crítico macroeconômico e político, trata-se, novamente, de uma busca da balança por um equilíbrio, rumo à maturidade.
Parece que, então, a “febre do growth” desacelerou, iniciando então a fase de eficiência e responsabilidade financeira, onde o “curto prazismo” dá espaço à visão de longo prazo e ao crescimento sustentável.
E assim como uma crise (ou recessão) catalisa a maturação das empresas digitais neste momento, vejo um paralelo com a crise do “subprime”, a partir do colapso do Lehman Brothers em 2007, que interrompeu um pouco mais adiante “coincidentemente” a “febre dos IPOs” à época.
Portanto, por que não usarmos o passado como exemplo?
Me lembro, como investidor, mal olhar o prospecto das empresas que abririam capital na bolsa. A conversão era muito boa. Poucas empresas não tinham suas ações valorizadas já no dia de abertura. Em alguns casos, 35, 40% de valorização em um dia, favorecendo o “day trade” para quem vislumbrava um ganho de curtíssimo prazo.
Assim, muitos investidores mal-informados “subiam no barco”, mais pela influência daqueles que se beneficiavam daquele momento de hype que pela saúde e potencial reais das empresas entrantes no mercado de capitais.
Com a crise e, a consequente insegurança dos grandes investidores, agora avessos à alto risco, as grandes fortunas foram migradas para aplicações mais seguras. Alguma semelhança com o atual momento?
Mas isso tudo não impediu que o mercado retomasse sua subida mais a frente e sentimos novamente uma economia pujante nos anos vindouros. A verdade é que independente da questão macroeconômica e política, empresas com bons fundamentos, pautadas em eficiência comercial e financeira, sofrem menos os impactos do cenário externo e, assim, “cuidam” melhor do capital de seus acionistas, investidores e, consequentemente, da carreira de seus colaboradores. São mais maduras.
Assim, “posts” nas redes sociais com celebrações por aportes multimilionários de agora ou discursos de “amigos” e “traders” com ganhos em day-trade nos IPOs de outrora, são ciclos hypes característicos da natureza humana e, apesar de, em alguns casos, representarem empresas que chegarão de fato ao sucesso sustentável, muitas não encontrarão esse platô da maturidade e longevidade.
Conclusão: Independente de um cenário externo positivo ou negativo, se és um talento em tecnologia ou um investidor em potencial, cabe uma análise aprofundada de cada oportunidade, entender o prospecto do que está sendo apresentado antes de investir tempo ou dinheiro naquilo.
Aceitar ou avaliar positivamente uma organização por conta de “posts” ou da “palavra das ruas” não basta.
Por fim, permaneço muito confiante no mercado de tech e nas empresas mergulhadas na transformação digital. Por isso, o objetivo aqui não era dar eco em más notícias, mas apontar um outro ângulo para avaliar o momento. Há muitas oportunidades e, estando na era dos dados, sobram informações e canais para com consciência decidirmos onde investir a carreira e/ou capital.
Para ilustrar e fazerem suas devidas comparações, recomendo, a leitura de uma notícia do ano passado (2022) quando iniciaram os layoffs no mercado tech, e uma de 2008, quando as empresas brasileiras passaram a desistir de seus IPOs. Duas matérias lançadas no pico das “crises” de suas eras.
PS: A palavra “farra” aparecer em ambas as reportagens (e que chamo neste artigo educadamente de “febre”) não passa de mera coincidência (contém sarcasmo). https://oglobo.globo.com/economia/turbulencias-nas-bolsas-ja-fizeram-23-empresas-suspenderem-ipos-3635549 https://www.moneytimes.com.br/farra-das-empresas-de-tecnologia-chegou-ao-fim-veja-se-ainda-da-para-apostar-nesse-setor/